Nesta semana realizamos, sem dúvida , a tarefa mais significativa do
projeto diversidade até agora. Ao assistir e debatermos o filme “O
Extraordinário”, questões complexas , íntimas e profundas vieram à tona. Para
mim, ficou a impressão de que até esse momento , não conhecia alguns de meus
alunos, tamanha foi a surpresa ao ouvir e ler seus relatos.
A criança é muito transparente e depoimentos que abordavam
racismo , bullying, negligência , entre outros, foram constatações que
surgiram. No entanto, eles ainda não conseguem compreender a gravidade destas
situações com clareza, mesmo assim,
percebem e sabem que é errado e o
quanto magoa.
Foi nítido perceber o quanto a influência do meio afeta os valores que as crianças trazem consigo. Em suas falas, visualizei o comportamento que seus pais apresentam quando veem até a escola resolver determinadas questões. Um exemplo, foi uma menina que relatou que queria ir à polícia por sofrer“bullying”. Ela não sofre bullying, mas assim define o fato dos colegas não serem seus amigos. Ela é uma menina manipuladora e os mais espertos percebem seu comportamento. Sua mãe, lá na escola, quer resolver tudo no grito , na polícia e na intolerância. Aqui , fica muito claro que eu como educadora, preciso olhar atentamente essa criança, pois na verdade, ela é vítima do meio em que vive, e transfere aos colegas aquilo que vivencia
em sua casa.
Essa mesma menina, falou alto:
-Eu só queria ganhar um cartãozinho!
Os colegas não reconhecem nela uma boa amiga, por isso, na
atividade do cartão ela não recebeu nada. Eles ao realizarem essa tarefa foram
muito sinceros. Tudo aquilo que observo diariamente entre eles, se mostrou. Os
melhores amigos, os amores escondidos, o carinho por mim.
No debate que fizemos, muitos assuntos de nossa rotina de
sala de aula, vieram à tona, porém, de modo implícito e as crianças não
perceberam. No entanto, fiz questão de aproveitar o momento para ajudar na solução de problemas do
grupo.
Muitos depoimentos foram positivos e surpreendentes como o de um aluno que escreveu ser extraordinário, pois leu com três anos, bem como toca piano e violino desde essa época. Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato dele questionar a existência de Deus, visto que a maldade existe. Esse menino trás consigo, uma dor muito grande, pois seu irmão foi assassinado, o que desestruturou toda a sua família, devido as sequelas remanescentes deste acontecimento.
Tenho nesta atividade a marca de meu estágio. Foi incrível
como um simples filme me mostrou e confirmou tudo aquilo que vejo na rotina com
as crianças. Ela deixou claro para mim, o quanto a auto estima de um
aluno interfere em seu rendimento escolar. Uma criança triste e com problemas,
não produz satisfatoriamente se o seu emocional está conflituoso.
Outra tarefa muito contemplativa, foi a escrita das
histórias inclusivas. Esta semana fizemos a segunda e terceira versão da mesma
e, como foi relevante um outro olhar sob suas produções. Eles refletiram
as situações, reviram posicionamentos e de maneira muito didática, qualificaram
seu trabalho.
Ao questionar um aluno sobre o que colocou no seu texto, uma outra menina falou:
-”Se tu der este fim pro teu personagem, não adianta a
profe ensinar essas coisas pra gente”.
Ou seja, ela percebeu, que ao trabalharmos a igualdade e inclusão ,o menino da história não poderia permanecer em situação de desigualdade e exclusão.
Ganhei meu dia nesta manhã, pois é evidente o que o
projeto diversidade está agregando em meus alunos. Percebo a empatia e o fato
de refletirem questões de cunho social extremamente importantes para o
desenvolvimento da cidadania.
Este trabalho diferenciado que estou realizando em meu estágio, está incluindo, agregando e
deixando minha turma muito homogênea dentro de suas heterogeneidades. Os alunos estão sendo respeitados dentro de suas especificidades e me permitindo olhar até onde conseguem ir em suas limitações. Não importa o resultado, mas sim , aquilo que conseguem mostrar; que é significativo para eles.
Moantoan (2000, p. 20)“Por tudo isso, a inclusão é produto de uma educação plural, democrática e transgressora. Ela provoca uma crise escolar, ou melhor, uma crise de identidade institucional, que, por sua vez, abala a identidade dos professores e faz com que seja ressignificada a identidade do aluno. O aluno da escola inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais”.
O professor consciente de suas obrigações não consegue
fechar os olhos à uma realidade que grita à sua porta. Esse é o professor que
reconhece o quão significativo é para seu aluno “o aprender”, vendo neste
somente o potencial que tem a oferecer. Não discriminando, excluindo ou
cobrando. Esse professor cobra a sí próprio, mesmo que por muitas vezes se
frustre diante as limitações impostas pelo sistema.
Moantoan (2000, p. 14)“ Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin (2001), pois, para se reformar a instituição, temos de reformar as mentes, mas não se pode reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições.
Não adianta, contudo, admitir o acesso de todos às escolas, sem garantir o prosseguimento da escolaridade até o nível que cada aluno for capaz de atingir. Ao contrário do que alguns ainda pensam, não há inclusão, quando a inserção de um aluno é condicionada à matrícula em uma escola ou classe especial. A inclusão deriva de sistemas educativos que não são recortados nas modalidades regular e especial, pois ambas se destinam a receber alunos aos quais impomos uma identidade, uma capacidade de aprender, de acordo com suas características pessoais”.
Desejo muito ser essa educadora que não delega seus alunos à outros, mas sim, uma educadora que consegue fazer sua parte, que pelo menos tenta , fazer a diferença no processo educacional dessas crianças. Quero me modificar, pois a maior mudança em uma escola parte do professor, ou seja , de dentro da sala de aula para fora dos muros da escola.