domingo, 26 de novembro de 2017


                                                            DIGNIDADE

 

Sou professora contratada na Escola Pública Estadual há 9 anos. Desde o início percebi um preconceito em relação à este tipo de regime  trabalhista.
É como se todos os dias tu precisasse comprovar aos demais colegas de que és uma profissional capaz e merecedora de estar dentro desta Instituição Educacional.
Por vezes, ouvi  comentários desagradáveis, os qual me colocavam em uma situação constrangedora e ao mesmo tempo de total impotência, já que não tenho como evitar tais desconfortos; a não ser com meu trabalho, o qual sei que  realizo com profissionalismo , dedicação e empenho.
Durante o processo de entrevistas e pesquisas percebi que muitos educadores falam abertamente sobre o porquê serem contra aos contratos. Vêem essa situação como um modo de sucatear ainda mais a educação pública  sou defensor de concurso público, pois penso que contratos são mais uma forma de precarizar a profissão de professor...” “e complementando, já fui contratado e num belo  dia fiquei desempregado...” tal situação, citada é uma realidade que há longa data faz com que profissionais sintam-se envergonhados de sua condição trabalhista, prejudicando sua auto estima e minando seu potencial psicológico.
Para o governo é conveniente essa mão de obra barata, já que todo educador contratado é isento dos benefícios estabelecidos no Plano de Carreira do Magistério Os professores contratados não são incluídos no Plano de Carreira do Magistério Público Estadual que prevê garantias como a estabilidade, férias, redução de carga horária, licenças, quinquênios, etc..” tal condição obriga o professor a ter uma segunda fonte de renda ,afetando assim, sua capacitação profissional .
Com base no trabalho de pesquisa realizado por mim, concluo que o professor  contratado está à margem da dignidade que todo profissional merece ter, pois o único reconhecimento que às vezes, recebe e após muito mostrar seu trabalho é o reconhecimento da comunidade escolar. Este reconhecimento não pode ser desmerecido, muito pelo contrário, na maioria das vezes é o único estímulo que o professor recebe, no entanto, como profissional, fica sempre a beira dos demais, não podendo participar
de cargos da direção escolar, nem de decisões importantes no mesmo âmbito.
Essa situação está longe de ser normalizada. Acredito que com novas leis e um outro olhar para a educação como o único método de transformar a sociedade teremos o professor respeitado em seus direitos; aqui refiro-me à professores como classe, independentemente de nomeados ou contratados, pois na verdade nos dias atuais, ser professor público é viver de esperança... esperança em dias melhores para nossas crianças.





sábado, 18 de novembro de 2017


                           RELAÇÕES SAUDÁVEIS

Morin nos apresenta um texto complexo em seu livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, mesmo assim ficou  claro que sem afetividade não há aprendizado .  Este atributo é essencial no relacionamento professor/aluno para que se dê a aquisição da proposta escolar, bem como nos relacionamentos interpessoais dentro deste âmbito. O que propulsiona o aprendizado são as   boas relações facilitando assim o encontro entre a dúvida e a resposta.
 Quando não há empatia entre os atores deste contexto, criamos ilusões que nos colocam na posição de meros profissionais, esquecendo o nosso lado humano; em contrapartida, penso que quando acontece um relacionamento estreito demais entre professor e aluno, pode-se deixar a razão de lado, agindo apenas com a emoção, ocasionando assim um fator negativo.
Há uma passagem no texto de Morim que diz que “os homens elaboram falsas concepções de si próprios, do que fazem, do que devem fazer, do mundo onde vivem” essa ilusão permeia o seu ser, camuflando assim , muito do seu eu, transparecendo apenas o que é conveniente ao contexto e ao momento.
Como educadores temos o dever de sermos éticos, trazendo à tona sempre o nosso lado mais racional, para assim sermos justos em nossas decisões e posições. Não podemos fazer de nossos valores uma verdade absoluta, pois é isso que percebo causar muitos problemas dentro da escola. Muitos educadores, por se julgarem donos do saber, não percebem que há outras verdades. A verdade do aluno muitas vezes choca e escandaliza e é dentro desta diversidade cultural que devemos nortear nosso trabalho, expandindo conhecimento e mostrando que não existe uma única verdade e sim, verdades distintas entre os pares de um contexto.

domingo, 12 de novembro de 2017


À SOMBRA DESTA MANGUEIRA


O texto de Paulo Freire “ A sombra desta Mangueira” remeteu-me à minha prática, onde todos os dias acompanho a aprendizagem de meus alunos. “No cerco epistemológico, não pretendo isolar o objeto para apreendê-lo em si; nessa relação procuro compreender o objeto interior de suas relações com o outro”.Ou seja, ao professor cabe a necessidade de observar e compreender como o seu aluno aprende, para assim, melhor intervir e mediar suas dificuldades na  busca pelo conhecimento.
A criança precisa ter vínculo, segurança e envolvimento com seu educador para assim ter a consciência de que é importante e de que faz parte daquele contexto. Já o professor,  precisa  saber  que objetivo tem com aquele aluno, desta maneira, buscará por mecanismos que melhor se adéquem  à necessidade da criança.
Caso a rotina da sala de aula, faça ligação ao que o objeto vive em seu meio, o problema abordado fará sentido e aí teremos uma criança curiosa em busca de conhecimentos que a auxiliem em seus anseios.  Porém, se o contexto teórico não linkar com o contexto concreto, teremos a frustração e a dificuldade em aprender e compreender sua permanência no ambiente escolar.
O professor precisa  saber e  conhecer  os passos que dá com cada um de seus alunos,  pois “ no clima da dialogicidade , o sujeito que pergunta sabe a razão do que faz”, e é isso permite compreender muitas das atitudes advindas das crianças, dando assim sentido à nossa profissão.
 Um olhar singular  é a única coisa que permite respeitar o educando em seu ritmo, modo e tempo de aprender, e nele depositar nossa esperança.


sábado, 4 de novembro de 2017


                           SOMOS PEÇAS DE UM QUEBRA - CABEÇAS
Identifiquei-me com a fala da Professora Mantoan quando  diz que não devemos adaptar o currículo para alunos de inclusão e sim, que é este aluno que deve seguir a proposta de trabalho, realizando aquilo que pode dentro de sua capacidade e respeitando suas limitações. Assim, estará aprendendo a conquistar sua autonomia como indivíduo singular que é, da mesma forma que  todos integrantes de uma turma; cada um é único em seu modo de aprender, justificando-se que a boa escola é aquela que ensina para todos, independentemente de sua condição.
Ao professor, cabe ter noções práticas para não errar no atendimento ao aluno de inclusão; acredito  também, que empatia e boa vontade estão interligadas à esta circunstância.  Conforme a Médica e Professora Izabel Maior, as pessoas com deficiência tem autonomia para gerir suas vidas e este ato, se inicia dentro da escola, pois é um dos primeiros lugares onde a criança irá conviver com todo tipo de diversidade.
Olhar a diferença com mais naturalidade dá ao portador da deficiência mais cidadania, impedindo o rótulo de ser um incapaz ou motivo para pena.
Tenho uma aluna autista, a qual costumo sempre dizer que ela na verdade, é uma artista, tamanho é o talento que tem  para as artes. Sua representação gráfica se dá a partir de seus desenhos. Logo que começamos a trabalhar juntas, estes  eram ligados apenas aos interesses pessoais dela. No entanto, conforme nossa interação foi aumentando, bem como nosso relacionamento se estreitando, ela passou a linkar seus desenhos aos assuntos abordados em aula; neste momento fica muito claro a fala de Montoan “ é este aluno que deve seguir a proposta de trabalho”, realizando aquilo que pode dentro de sua capacidade e respeitando suas limitações.
Minha aluna não aceita adaptações de tarefas. Ela faz somente o que quer, dentro de seus interesses. Como ainda não está alfabetizada, eu busco soluções para esta questão. No entanto, não é fácil,  pois não compreendo até onde conseguirei atingi-la, considerando suas limitações biológicas. Este fator é motivo de angústia para sua família, que constantemente cobra da escola resultados específicos de aprendizagem.
Percebo que a deficiência física é um percalço inclusive para a família que não sabe como gerenciar tal situação . Estas questionam as dificuldades e na maioria das vezes buscam por um desempenho que não chegará. Ou apenas não chegará no tempo que elas estipulam ser o certo.
Hoje, depois de muitos anos lecionando e trabalhando com a inclusão, penso que como educadora devo fazer o possível para valorizar a auto estima de meu aluno. Muitas vezes, é preciso começar apenas com a socialização desta criança e até mesmo com a integração dele ao grupo, que em alguns momentos, precisa ser conscientizado das diferenças que temos como seres humanos. É muito comum ver em um grupo de crianças o estigma em relação ao que é diferente. Na maioria das vezes, o meio em que convivem fomentam a ideia de pena e de incapacidade do indivíduo com deficiência. Percebo até mesmo que alguns rejeitam o colega deficiente, no entanto, a maioria se sente bem auxiliando aquele colega. É à este tipo de situação que o professor deve estar atento, pois quando for a vez de uma situação inversa, salientar bem ao grupo em geral, que na vida precisamos uns dos outros e que todos fazem parte de um grande quebra-cabeça, no qual todas as peças são importantes e nenhuma pode faltar.