quinta-feira, 26 de novembro de 2015

                                       
                                                 

                                                     TRANSFERÊNCIA

Hoje foi o último dia de aula do Professor Sérgio,  meu estagiário de Educação Física neste semestre.
Sabe aquela pessoa tranquila, segura  pacienciosa? O próprio. A serenidade deste professor era tanta, que em nenhum momento precisei interferir em suas aulas. Ele sempre soube conduzir a turma.
Nem preciso dizer que as crianças o adoraram. O semestre passou tão rápido, que só me dei conta de seu término,  quando o professor veio falar comigo sobre um café da manhã de despedida que gostaria de fazer com as crianças.
O combinado foi feito. Todos trouxeram seus lanches e o café foi bem harmonioso. 
Depois vieram brincadeiras, agradecimentos recíprocos, alguns momentos no pátio e... chegou a hora!
Fotos e despedida...lágrimas nos olhos dos meus pequenos.
O primeiro aluno a chorar, foi um "danado" que nunca dá bola pra nada e sempre está envolvido em alguma confusão. Os colegas foram conversar com ele e não adiantou. Ele reclamou:
- Por quê a vida tem que ser assim?
Conversei com ele e não adiantou, o professor conversou e não adiantou.
De repente já eram dois, três, quatro... quase todos choravam a despedida do professor. Em seis anos na minha escola, nunca havia presenciado nada parecido.
O professor realmente foi muito querido com eles e merecia toda aquela comoção, porém se Freud estivesse ali, o que será que ele diria?
Acredito que segundo a psicanálise, meus alunos transferiram ao professor, naquele momento de sensibilidade, alguma dor interna que estavam sentindo e viram nessa despedida  (  quase  toda despedida é dolorosa) uma possibilidade inconsciente de extravasar as emoções contidas.  
Observei cada criança que chorava. E,  por conhecê-los bem, sei de possíveis mágoas que poderiam estar causado tal comportamento. O primeiro menino por exemplo, passou pela separação dos pais e viu na despedida do professor seu pai saindo de casa. Talvez muitos deles tenham sido sugestionados pelo choro de alguns, porém aqueles que mais sentiram foram os que estavam vivenciando o momento de transferência.


































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