terça-feira, 14 de julho de 2015

AINDA NÃO SEI LER

                                                       AINDA NÃO SEI LER

Nesta semana atendi a família de um dos meus alunos. Ele está no 3º ano e ainda não se alfabetizou. Conforme é de praxe, estamos fazendo os encaminhamentos necessários, buscando alternativas e soluções para averiguar a apatia e desinteresse que demonstra diante o aprendizado. Até aí, tudo muito normal, isso é uma rotina na escola, principalmente para quem trabalha com séries iniciais, com eu.
Depois de muito conversar, e esta não foi a primeira conversa, o pai do menino, olha para mim e diz:
- Professora, a senhora pode deixar, que agora nas férias, eu vou alfabetizar meu filho! A senhora me dê 10 dias!
Essa criança está em processo de alfabetização há 3 anos, e ainda não lê, pensei na hora! E o pai irá solucionar o caso em 10 dias?
Eu não sabia se ria ou se chorava!
Meu orientador, uma pessoa muito calma, centrada, com todos os seu xácaras alinhados olhou pro pai e disse:
-Pelo seu relato e a fala da professora pude perceber que  menino gosta de jogos, então precisamos investir pesado nisto. Vamos fazer um " café colonial" de jogos para ele, com xadrez, dama, jogos que estimulem o raciocínio!
- Que jogos nada, professor! Diz o pai. Ele vai aprender como eu, na varada!
Eis a situação!!!
Fazer o quê, diante a "ignorância" de uma família que quer ajudar seu filho mas se vê travada diante o medo e a vergonha do fracasso escolar?
 Essas foram as palavras da mãe, relatando as atitudes que o pai toma para ensinar esse menino:
-"Ele faz o coitadinho encher a folha com a letra E e  agora está fazendo isso com a lera K. O guri está traumatizado"!
O casal ainda afirmou que a escola ensina de maneira errada e que " emburreceu" seu filho, pois ao chegar à nossa instituição, ele não era assim. Ainda se acusaram mutuamente, por atitudes em relação ao menino.
Meu Deus! Tudo isso recai na escola. Somos professores, psicólogos, mediadores de situações que recaem sobre nós mas que não nos competem , mas comprometem nossa função social. Tudo isso associado à um, possível, problema cognitivo ou emocional à ser investigado com profissional não disponíveis na rede pública.
A escola precisa se organizar, se reinventar de maneira que atenda e contemple essas crianças que aprendem de maneira diferenciada. Todos somos capazes, mas alcançamos nossos objetivos em tempos distintos, de maneiras desiguais e isto deve ser respeitado. E a maneira como a escola está organizada hoje, não abrange este seleto grupo de alunos que vê o mundo com outros olhos.
Acredito na teoria de Gardner e a teoria dos saberes . A escola seria mais justa se fosse por este segmento, afinal somos iguais apenas pelo fato de sermos humanos, mas como aprendemos, ou nos apropriamos do saber, diz respeito somente a cada um de nós.


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